Sonho com a morte. Não a minha, não a de Helena, mas sim a morte. Não há nenhuma figura com uma gadanha, não há nenhum cavaleiro negro. Há a morte, a palavra morte, o que significa e sempre significou, como um letreiro de luzes escuras no meio de um nada. Atrás do letreiro estão todas as gerações de pessoas já mortas, todas as civilizações que já cessaram de existir, desde o início dos tempos até ao passado presente. Deste lado, estão os vivos. O número de passos que tenho de percorrer até chegar à palavra morte corresponde ao número de anos que, no sonho, sei que ainda me resta. Antes e depois disso, há respectivamente o nada e o cessar do algo. A memória colectiva é forte, mas há pouco espaço para a individual. O que faz um homem ou uma mulher nesse curto espaço de tempo que é a existência. O que faz com que viver seja um testemunho para um futuro. São perguntas que faço no sonho, pois se posso ver os mortos por detrás da morte e se posso ver os vivos à sua frente, não vejo em lugar algum aqueles que virão. É essa a grande dor e mal da existência, o ter de não saber quem serão esses, os outros, os que começarão um novo ciclo após morrermos. E ainda o letreiro de luzes escuras a impor-se, a mostrar-me, a mim e Helena, que não somos nada, que não podemos querer ser nada, que podemos ter em nós todos os sonhos do mundo, mas que estes acabam quando começa a morte. O corvo, do outro lado da morte, permanece imóvel e olha-me. Grito-lhe, Responde-me, corvo. E ele permanece imóvel e não me fala. Atrás dos que estão por detrás da morte, há um precipício e o chão é como se fosse um rio que caminha nessa direcção. Os que estão atrás de todo vão caindo aos milhares no poço sem fundo e muitos outros deste lado vão passando para o outro. É um mecanismo brutal, violento, definitivo. E, no entanto, há uma serenidade colectiva nos rostos dos mortos, quase um sorriso nos lábios de cada um. O corvo afasta-se cada vez mais e os meus pés estão colados ao chão. E ele afasta-se, afasta-se, afasta-se, afasta-se, a f a s t a – se, a f a s t a - s e, a f a s t a - s e, a f a s t a - s e até cair.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Perspectivas
"There’s a hedonistic, materialistic, selfish disposition in contemporary gay culture that everybody wants."
- Mark Ravenhill
- Mark Ravenhill
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
As minhas bonecas russas
Recuso-me a ceder. Recuso-me a não ter uma São Petersburgo à minha espera. Também eu terei uma noite branca que será para sempre. Também eu ouvirei Beth Gibbons ao sair de um comboio. Também.
Yes, I'll keep dreaming.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Fire Worship
Para todas as almas atormentadas nesta Terra que gira:
A razão é uma arma de defesa que não permite fogo amigo.
A razão é uma arma de defesa que não permite fogo amigo.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Pensamento da Noite
Por mais que às vezes me arme em Florbela Espanca, eu sou um miúdo de vinte e dois anos que não quer morrer.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Verdade (quase) absoluta
A sexualidade é somente uma face que pomos, tendo muito pouco que ver com género e/ou sexo.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Eu e o Diabo
Os carros que passavam eram como os olhos de Deus a ver-nos medonhos a arder na rua. Nós fomos bravos - o castigo é só para aqueles que o permitem.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
R.I.P - Corvo
"Examination at the Womb-door"
Who owns these scrawny little feet? Death.
Who owns this bristly scorched-looking face? Death.
Who owns these still-working lungs? Death.
Who owns this utility coat of muscles? Death.
Who owns these unspeakable guts? Death.
Who owns these questionable brains? Death.
All this messy blood? Death.
These minimum-efficiency eyes? Death.
This wicked little tongue? Death.
This occasional wakefulness? Death.
Given, stolen, or held pending trial?
Held.
Who owns the whole rainy, stony earth? Death.
Who owns all of space? Death.
Who is stronger than hope? Death.
Who is stronger than the will? Death.
Stronger than love? Death.
Stronger than life? Death.
But who is stronger than death?
Who owns these scrawny little feet? Death.
Who owns this bristly scorched-looking face? Death.
Who owns these still-working lungs? Death.
Who owns this utility coat of muscles? Death.
Who owns these unspeakable guts? Death.
Who owns these questionable brains? Death.
All this messy blood? Death.
These minimum-efficiency eyes? Death.
This wicked little tongue? Death.
This occasional wakefulness? Death.
Given, stolen, or held pending trial?
Held.
Who owns the whole rainy, stony earth? Death.
Who owns all of space? Death.
Who is stronger than hope? Death.
Who is stronger than the will? Death.
Stronger than love? Death.
Stronger than life? Death.
But who is stronger than death?
Me, evidently.
Pass, Crow.
(Ted Hughes, Crow)
(Ted Hughes, Crow)
sábado, 1 de novembro de 2008
Light versus Darkness
So have been my days, an endless fight for living and surving - moments of shine and moments of shade, as atested by the acid liquids produced by my brain and tender substances of love being prevented from forming in my heart. Even if that little red pumping mechanism can't resist the sunspots sometimes.
And so I must confess - in darkness I crave for love. In the light, I pray for solitary and selfish freedom. Who will one day decide upon one or the other? When will my judgment be?
I love the light. Does that make me more likely to get touched by the sun? It's true - I miss being in love. And I hate feeling like this.
And so I must confess - in darkness I crave for love. In the light, I pray for solitary and selfish freedom. Who will one day decide upon one or the other? When will my judgment be?
I love the light. Does that make me more likely to get touched by the sun? It's true - I miss being in love. And I hate feeling like this.
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