segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ler

---"To grasp the shadowy and fantasmal form of a book, to hold it fast, to turn it over and survey it at leisure - that is the effort of a critic of books, and it is perpetually defeated. Nothing, no power, will keep a book steady and motionless before us, so that we may have time to examine its shape and design. As quickly as we read, it melts and shifts in the memory; even at the moment when the last page is turned, a great part of the bok, its finer detail, is already vague and doubtful. A little later, after a few days or months, how much is really left of it? A cluster of impressions, some clear points emerging from a mist of uncertainty, this is all we can hope to possess, generally speaking, in the name of a book. The experience of reading it has left something behind, and these relics we call by the book's name; but how can they be considered to give us the materal for judging and appraising the book? Nobody would venture to criticize a building, a statue, a picture, with nothing before him but the memory of a single glimpse caught in passing; yet the critic of literature, on the whole, has to found his opinion upon little more. Sometimes it is possible to return to the book and renew the impression; to a few books we may come back again and again, till they do in the end become familiar sights. But of the hundreds and hundreds of books that a critic would wish to range in his memory, in order to scrutinize and compare them reflectively, how many can he expect to bring into a state of reasonable stability? Few indeed, at the best; as for the others, he must be content with the shapeless, incoherent visions that respond when the recollection of them is invoked.
---It is scarcely to be wondered at if criticism is not very precise, not very exact in the use of its terms, when it has to work at such a disadvantage. Since we can never speak of a book with our eye on the object, never handle a book - the real book, which is to the volume as the symphony to the score - our phrases find nothing to check them, immediately and unmistakably, while they are formed. Of a novel, for instance, that I seem to know well, that I recall as an old acquaintance, I may confidently begin to express an opinion; but when, having expressed it, I would glance at the book once more, to be satisfied that my judgment fits it, I can only turn to the image, such as it is, that remains in a deceiving memory. The volume lies before me, no doubt, and if it is merely a question of detail, a name or a scene, I can find the page and verify my sentence. But I cannot catch a momentary sight of the book, the book itself; I cannot look up from my writing and sharpen my impression with a straight, unhampered view of the author's work; to glance at a book, though the phrase is so often in our mouths, is in fact an impossibility. The form a novel - and how often a critic uses that expression too - is something that none of us, perhaps, has ever really contemplated. It is revealed little by little, page by page, and it is withdrawn as fast as it is revealed; as a whole, complete and perfect, it could only exist in a more tenacious memory than most of us have to rely on. Our critical faculty may be admirable; we may be thoroughly capable of judging a book justly, if only we could watch it at ease. But fine taste and keen perception are of no use to us if we cannot retain the image of the book; and the image escapes and evades us like a cloud."
Percy Lubbock, The Craft of Fiction

Poequasia


O homem:

Eu hei pacificado o mundo à minha volta,
Todos os olhos em meu redor,
Todas as pétalas em meu regaço,
Dêem-me agora o sono dos justos.


O homem fuma cigarros intermináveis,
Ouvindo as trompetas dos pequenos passos,

pequenos,

E permanece firme na cadeira, os olhos cansados,
Ouvindo a modorra do futuro,
Passado dos passados, sentindo
A bateria marcar ritmos até ao dia da sua morte.

sábado, 21 de novembro de 2009

estranhos impulsos

Às vezes paro e penso: qual é o objectivo de ter um blogue, especialmente como este? Quem realmente me lê desse lado? Importo-me eu que alguém me leia? Sim, claro. Mas porquê? Afinal, qual a razão da necessidade de nos "mostrarmos" num blogue?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Os pássaros negros de asa laranja

A caminho da biblioteca invadiu-se-me uma felicidade quase incontrolável, explosiva, não fosse eu um moço recatado e respeitoso dos preceitos que estabelecem as fronteiras entre a sanidade e a loucura. Os agentes responsáveis? Esta canção da Marisa Monte e a beleza dos sons juspostos com as palavras. E nem precisei de ter Deus como um império para não me sentir sozinho no mundo. Mas acredito que as flores que eu oferto/ofertei nunca morrerão. Um ramo de uma árvore que se estendia por cima de mim caiu sem me atingir. E agora sei de onde vêm os anjos. O último acorde da música senti-o no pousar de pássaros negros com asas laranja.
O vídeo não é o melhor, mas o momento foi:


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Correcção

Há quem diga que eu sou um jovem que com tão tenra idade já se sente desiludido e cansado do mundo. Eu respondo que não. O que se passa é exactamente o contrário. Por ser tão apaixonado pela vida e pelo mundo é que me sinto muitas vezes incapacitado de os aproveitar ao máximo. E isso, sim, isso entristece-me profundamente e cria ciclos que podem parecer desgosto perante a existência. Mas ela apenas me dói quando não a posso existir profundamente. Mas quando isso acontece, um simples fio de relva pode fazer-me chorar, de tão naturalmente perfeito que pode ser.

Talvez o problema seja que ao contrário de muita gente eu tenho consciência em demasia de que adoro viver. E isso origina dores que muitas outras pessoas não podem nem conseguem entender. Porque o universo não faz sentido nenhum, nem as dimensões, nem o monótono mexer de um dedo, se estivermos atentos aos pormenores; isso é assim e eu desconfio e confio que será sempre dessa maneira. É o caso que a dissociação de tudo o que existe é uma coisa assustadora - a pergunta/resposta que podemos sempre pôr e que é concomitantemente consolo e miséria é a seguinte: se nada faz sentido por que raio é que sentimos tudo o que sentimos por outras pessoas, pelo nosso contacto com o que nos rodeia, pelo simples prazer ou desconforto de manejar o cérebro e fazê-lo divertir-nos ou aterrorizar-nos?

Porque vale a pena gostar de estar vivo é sempre possível que alguns desejem a morte. Não é o meu caso. Mas talvez já tenha sido ou ainda seja sem eu notar.

E se sentirmos o que quer que seja é sempre bom sinal, para o mal ou para o bem.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

fairy king

O tipo de deboche que nós europeus do sul vemos dentro e fora de portas (chamem-lhe deboche, divertimento, maluqueira, o que quiserem) acontece aqui nos Estados Unidos, pelo menos na Califórnia, somente em festas em casa ou bares/discotecas. O curioso é que nesse aspecto é perfeitamente reconhecível que, apesar das diferenças no modo de viver e sair à noite (e são algumas), as pessoas continuam a ser pessoas. E se é também verdade que há nuances culturais que devem ser aprendidas e respeitadas, aqui e não só, no que à interacção e relacionamentos sociais concerne, o apreciado deus Baco (para apenas citar o romano) trata de fazer com que muitas dessas aparentemente adamastoras "leis" que marcam o facto de eu ser português e interagir com um americano se esbatam até vermos que essencialmente somos todos os mesmos animais sedentos de carne. O que muda, porventura, é a parte que não é física. E mesmo essa...mesmo essa, bem, que interessa essa parte se caem uvas do céu numa festa?

sábado, 14 de novembro de 2009

Caixa de Pandora

Há um sítio muito interessante e polivalente na rede da internet chamado Pandora Radio. O que se faz? Escolhe-se um artista ou música e o sistema trata de encontrar músicas desse artista e depois comporta-se como uma estação musical, passando canções que se relacionam com o som que se escolhe. Pode-se criar múltiplas estações e, dependendo do estado de espírito (pessoalmente, para limpezas, costumo escolher a estação Buraka Som Sistema) ou do objectivo do momento, disfrutar de uma sequência minimamente coerente. O curioso que me aconteceu hoje, usando o Pandora, foi que escolhi a minha estação da Lady Gaga. Britney e Christina surgiram logo de seguida, Justin e Madonna também. A surpresa foi quando a estação começou a tocar Coldplay.
E há uma frase que tenho usado muito recentemente, dado o meu contacto com a cultura americana: "These things happen." E, sim, acontecem. E estou para ver por que carga de água Coldplay tem algo a ver com os artistas mencionados.
Aqui vai o link:

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Publicidade

Sempre fomos bons a produzir anúncios.

Este mais antigo penso que ganhou alguns prémios: http://www.youtube.com/watch?v=JN8d9c8abtE


Este acaba de ganhar um prémio internacional para o melhor anúncio sobre a prevenção da sida:

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Salvação (?)

"Les oiseaux qu'on met en cage
Peuvent-ils encore voler?
Les enfants que l'on outrage
Peuvent-ils encore aimer?"

Esmeralda, "Les oiseaux qu'on mette en cage." Notre Dame de Paris

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

homenagem à tragédia

Emiliana Torrini - "Gollum´s Song"

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

lost poetry

Sailing through seven seas and more,
hungry we are forever for something else.
And it may be that our ship never really finds any land,
it may be that the tempests never fade;
And though we are traveling lost in time
our clocks tick with each of our heartbeats.

(lost text)


Sailing the seven seas and more,
are we not always wishing to be someone else?
And, alas, our ship finds the isles
baffed up by golden winds and drowned in divine liquor!
It could be that if we stopped (lost text)
(lost text)

the tempests faded and yet our
hearts grieve the darkness that was lost.
(lost text)

The clocks have stopped...

anonymous English poet from the 17th C

terça-feira, 3 de novembro de 2009

quatro pios na noite


1. Por mais que estejamos, em última instância, sozinhos, nunca estamos realmente sozinhos. É uma estranha dicotomia que opera na vida de uma pessoa. Nunca seríamos eternos se não morrêssemos, do mesmo modo que nunca viveríamos, criada que foi a "sociedade", se não houvesse mais pessoas.



2. Não é coisa nova que eu diga que as cicatrizes físicas que carregamos são quase a mesma coisa que aquelas que nos afectam o que não é biológico. E também não é novidade se eu afirmar que a grande diferença entre umas e outras é que a maior parte das cicatrizes no corpo são mais fáceis de esquecer (aqui perdoar-me-ão as pessoas que vivem com marcas na face, por exemplo) do que as da chamada "alma". Muitos teóricos que se debruçam sobre o mecanismo da memória já o afirmaram (Marc Augé, para citar apenas um) e eu reforço: se conseguíssemos esquecer certos momentos e acontecimentos que nos perturbaram maliciosamente seria muito mais fácil lidar com tudo o que está inerente à existência. Mas também perderíamos muito do bom que adquirimos. Resta saber o que vale mais: o sofrimento de viver com cicatrizes que nunca realmente cicatrizam ou a amnésia que pode muito bem matar depressões.



3. Vai um grande espaço entre distância física e distância mental. Hoje em dia em vinte horas estamos em qualquer parte do mundo. O que são vinte horas? Quase nada, o tempo de ler dois, três livros, ver dois ou três filmes e dormir, contando que estejamos a viajar. E se carregarmos o nosso barulho de fundo connosco o nosso peso aumenta tantas vezes quantas nos imaginarmos de volta ao ninho. A questão, claro está, é o receio de que o ninho já não seja o mesmo ninho e que o território longínquo não nos providencie um outro. Em parte, estar num sítio novo é complicado porque o local é alheio a nós (ou nós somos-lhe alheios), mas a grande fatia daquilo que este tipo de desassossego é feito é a liminalidade. Ou talvez isto tudo seja parvoíce minha.



4. E fica um desenho que fiz e colori. Não tenho jeito absolutamente nenhum para estas coisas. O curioso é que pintei o "ser" que desenhei com cores que lembram a bandeira portuguesa e apenas no fim notei isso. Vá-se lá saber as partidas que nós pregamos a nós mesmos. O título é "The Howl".



segunda-feira, 2 de novembro de 2009

da descontinuidade que é a ficção

"What makes history impossible is what makes story possible."

Charles E. May, The New Short Story Theories