quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

siste viator

"À Fragilidade da vida humana"

Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.

Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse estio em vesúvios encendido
Foi zéfiro suave em doce agrado.

Se a nau, o sol, a rosa, a primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,

Olha, cego mortal, e considera
Que és rosa, primavera, sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.

Francisco de Vasconcelos, (Fénix, III: 246)

asas para voar, asas para cair

Já lá vão alguns anos depois do filme Brokeback Mountain ter saído. Ainda hoje não sei explicar as lágrimas que jorraram dos meus olhos antes, durante e depois de ter ido ao cinema. A partir desse momento nunca mais fui o mesmo, para o bem e para o mal. Esta canção em particular, The Wings, composta por Gustavo Santaolalla, sem palavras disse-me um caminho que segui posteriormente, que me trouxe até onde estou e sou agora. Muitos outros elementos participaram desse processo, mas o ponto de partida ou de ruptura foi este filme. E até hoje sempre que o revejo choro como se fosse a primeira vez. A memória é uma coisa que persiste em não esquecer que as dores que outrora sentimos são passíveis de serem sentidas a qualquer momento das nossas vidas. E também as alegrias, suponho. Aqui ficam as asas que me permitiram voar, cair, voar, cair, voar, cair, voar e cair. E levantar-me nos pés. Em homenagem a uma história brilhante e a um actor fantástico, que morreu sem ser o que poderia maximamente ser. R.I.P Heath Ledger. R.I.P Jack Twist. R.I.P tudo o que poderia ter sido e não foi.