Há quem diga que eu sou um jovem que com tão tenra idade já se sente desiludido e cansado do mundo. Eu respondo que não. O que se passa é exactamente o contrário. Por ser tão apaixonado pela vida e pelo mundo é que me sinto muitas vezes incapacitado de os aproveitar ao máximo. E isso, sim, isso entristece-me profundamente e cria ciclos que podem parecer desgosto perante a existência. Mas ela apenas me dói quando não a posso existir profundamente. Mas quando isso acontece, um simples fio de relva pode fazer-me chorar, de tão naturalmente perfeito que pode ser.
Talvez o problema seja que ao contrário de muita gente eu tenho consciência em demasia de que adoro viver. E isso origina dores que muitas outras pessoas não podem nem conseguem entender. Porque o universo não faz sentido nenhum, nem as dimensões, nem o monótono mexer de um dedo, se estivermos atentos aos pormenores; isso é assim e eu desconfio e confio que será sempre dessa maneira. É o caso que a dissociação de tudo o que existe é uma coisa assustadora - a pergunta/resposta que podemos sempre pôr e que é concomitantemente consolo e miséria é a seguinte: se nada faz sentido por que raio é que sentimos tudo o que sentimos por outras pessoas, pelo nosso contacto com o que nos rodeia, pelo simples prazer ou desconforto de manejar o cérebro e fazê-lo divertir-nos ou aterrorizar-nos?
Porque vale a pena gostar de estar vivo é sempre possível que alguns desejem a morte. Não é o meu caso. Mas talvez já tenha sido ou ainda seja sem eu notar.
E se sentirmos o que quer que seja é sempre bom sinal, para o mal ou para o bem.