terça-feira, 20 de outubro de 2009

God Bless America

A América é um sítio peculiar. A tão advogada "freedom" é de tal forma regrada por estas bandas, que se sente mais opressão do que outra coisa. Beber no campus nem pensar, a não ser que hajam concertos, e aí, com a devida identificação a mostrar idade superior a vinte e um anos, dão umas pulseiras (amarelas para os rapazes, rosa para as raparigas...) para comprarmos cerveja e depois a bebermos num local designado, longe do palco - o "Beer Garden". Esse estrado é curioso porque se veda com uma fita estilo policial e mesmo se pusermos um pé fora dele (mas ainda dentro da linha) vem logo um segurança dizer-nos que beber é só com a patinha no devido sítio. Ontem o concerto foi dos The Sounds e a abertura pelos surpreendentes Foxy Shazam. Duas bandas quase desconhecidas, sendo a principal bastante "calma". Mas ainda assim, polícia a rondar a sala de espectáculo dentro e fora de portas.
A realidade das partes que já visitei dos Estados Unidos e segundo o que os americanos me dizem é que o rigor e as regras são a chave do mecanismo que aqui funciona. A bebida, por exemplo, é de tal modo proíbida, que muito poucos jovens beberão pelo simples prazer de saborear um vinho ou uma cerveja. Não, beber é tabu e quase só se faz para a bebedeira. Isto é especialmente válido para os jovens pré-vinte e um anos, que bebem dentro de portas e se arrastam no fim das festas. Será que por ser apenas legal aos vinte e um anos a bebida aqui é um demónio que se apropria quando se chega à universidade e, principalmente, quando se atinge a idade legal?
Mais, andar de bicicleta fora das chamadas "bike lanes" é impensável, especialmente dentro do campus universitário, onde se pode muito facilmente (eu já assisti) apanhar uma multa que não deve ser pequena. E nós estudantes internacionais temos tantas regras a cumprir, que se por algum acaso cometemos uma pequena infracção corremos um sério risco de sermos deportados.
E as relações humanas são deveras diferentes das na Europa, ou pelo menos na realidade europeia que é a minha. A simpatia tão tipicamente americana, que eu duvido que seja falsa, torna-se desconfiança a um toque mais físico da nossa parte. Compreensível, cultural, digamos.
O fumar. Tabu brutal por estas bandas californianas. Olham-nos com algum desprezo em certos sítios, raramente haverá um cinzeiro em cafés ou bares, e só se pode fumar "20 feet away from public buildings" ou em sítios designados para o efeito. A maior parte detesta o fumo e os fumadores. Mas a maior parte dessa grande parte pede cigarros quando bebe, dispondo-se até a pagar um dólar por um "cig". E quantos pedem tabaco...a mim já lhe perdi a conta. E eu dou, porque gosto de alimentar hipocrisias.
Por outro lado, não quero soar tão desiludido com o lugar. Santa Barbara não é a melhor cidade do mundo, nem a UCSB é a universidade mais animada e cultural de todas. Aliás, não se passa muito aqui. E isso cria um deserto que me asfixia. Ainda assim, as coisas de facto funcionam e o pudor tão característico dos americanos é compensado pelo facto de podermos muito bem reclamar e ganharmos alguma coisa com isso (além de que as passadeiras num dos ginásios têm televisões individuais com canais cabo). As coisas funcionam para o povo, isso é válido para quase tudo aqui.
É difícil descrever o que é estar cá. Só vivendo o "american dream".
Mas, ó América, que "quaint" me saíste... e tão urbana ao mesmo tempo!