terça-feira, 9 de setembro de 2008

Confesso que nunca tinha lido Philip Roth antes de ler The Ghost Writer. Já muito me tinham dito a respeito do autor e das suas capacidades de escrita, que o elevaram a um pedestal pré-nobel, pedestal a que o escritor provavelmente já não é alheio.
A princípio, a história contida nesta obra não estava a conseguir impressionar-me, talvez por estar habituado a ler romances de outra ordem, como sejam os de Saramago, José Luís Peixoto e mesmo até Steinbeck, sem contar com a recente obra lida, Faces in the Water, de Janet Frame. No entanto, a compactação textual, atingida com um sucesso brilhante, a trama que se adensa gradualmente e o desvairo com que a personagem principal, Nathan Zuckerman, inventa uma história alternativa para a femme fatale Amy Bellette conseguiram eventualmente e com pouco esforço conquistar-me. A língua inglesa é usada com tremenda mestria, tanto para nos deliciar comicamente, como para nos ir contando aquilo que se passa entre as personagens, o seu pano de fundo, presente e possível futuro. Se à primeira vista o leitor se pode sentir menos motivado com o encontro de Nathan com o seu ídolo E. I. Lonoff, a forma como o enredo se vai desenvolvendo é absolutamente hipnotizadora. A linguagem é precisa, clara e brilhante e somos raptados para um mundo onde o holocausto é uma menina que emigra para os Estados Unidos. 
Há ainda considerações profundas sobre o exercício de escrita. Assim sendo, quem será o ghost writer? O próprio Nathan? Lonoff? Amy Bellette e o seu diário? Se o ídolo de Nathan se alimenta da escrita como se esta fosse a substância vital do seu universo, alienando a própria família, é possível afirmar que o facto que o torna fantasmático é provavelmente o modo como o próprio se foi gradualmente afastando do mundo dito real e das qualidades e faculdades humanas. Por outro lado, Amy, vista através dos olhos um tanto ou quanto perversos de Nathan, é possivelmente a verdadeira escritora fantasma. Uma sobrevivente do holocausto que mudou o nome para que um certo diário não dissesse dela aquelas verdades que a fizeram odiar o mundo. Mas é Nathan o verdadeiro escritor das sombras, aquele que inventa o enredo, que dá começo e fim às outras personagens através de uma imaginação subtil mas prodigiosa. Aquilo que o Lonoff e Amy nunca têm acesso durante todo o romance é a verdadeira escrita de Nathan: pura ficção, tão credível como a própria realidade e talvez ainda mais convincente. 
Considerações à parte, este é um romance de grande maturidade, um daqueles livros que ficam connosco durante muito tempo.
A ler.