quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A apropriação do Outro

Será que alguma vez um tubarão branco comeu um tigre?

A redução do riso

"It is all very well to eat, drink, and be merry, but one cannot always put off dying until tomorrow." - Northrop Frye, The Anatomy of Criticism
Quando acabarás, Pós-Modernidade?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Do Período



Depois de ter visto múltiplas vezes este anúncio na televisão, decidi pensar sobre ele. A conclusão a que cheguei é que também quero ter o período. A julgar pelas senhoras na publicidade, deve ser um êxtase brutal de felicidade e pura magia. E as coreografias...Poesia, amigos, poesia...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

my own private branch



Björk - Unison (live at the Royal Opera House)

Not even that little slip of the voice at 03.48 can destroy or desacralize the overwhelming beauty of this musical composition. If there's any truth in this world, it's music. It's what we can do with it, it's through it (and not only it) that we can elevate our existence to a state of pure awe. "One hand allows the other" to shake it, to embrace it, to kiss it, to hold it, to hi5 it, to measure it, to play with it, to bless it.

Or perhaps I'm just too young.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Spoken Word



"Dive", Andrea Gibson

A vida não rima, não senhor.

Thank you, Andy!

Guerra em Gaza

Cf. Mia Couto, "A Guerra dos Palhaços" in Estórias Abensonhadas

domingo, 4 de janeiro de 2009

Justaposição



Antony and the Johnsons - "Hope there's someone"


O que mais assusta não é a indiferença das pessoas, é o saber que talvez se fosse eu fizesse o mesmo.

Ainda o Natal

As Mãos, o Natal

Uma sombra abateu-se sobre a casa. Aquela casa perdida entre as outras, naquela rua estreita sem saída, presa àquela terra que agarrava com força as raízes, que absorvia a vida toda, a alegria, o riso, a vitalidade, o sangue das pessoas. À volta, o que tinha um dia sido arvoredo era agora um número reduzido de árvores no fim de vida, poucas com folhas, quase todas magras e definhadas. E a casa resistia como podia. As trevas começaram a adensar-se na noite de natal, quando o ar se polui de gases e foguetes, e os rostos são de festa. Naquela casa, também os rostos das pessoas que lá moravam tentaram ser de festa, mas as raízes rangeram, tremeram e desistiram. Aos poucos, a energia continuava a ser sugada pela terra, como uma seringa que extrai sangue das veias das pessoas, aspirando o mínimo átomo de contentamento, todas as partículas de vida, todo o brilho dos olhos das pessoas da casa. A ceia de natal iniciara-se e eram três os comensais. Olhavam uns para os outros enquanto enfiavam lentamente a comida na boca. A toalha, com motivos alusivos à época, impecável e brunida para a ocasião, parecia derreter-se à medida que o som da televisão aumentava de volume. No ecrã, mostrava-se as últimas catástrofes do mundo, os dilúvios, as decapitações, os reis que cortavam mãos ao povo, os padres que violavam as meninas de vermelho na floresta, a crucificação dos pretos e dos que se vestiam de preto, a doença que tornava podres e disformes as crianças que nasciam de ventres infectados, e também o sorriso branco e largo das pessoas que sabiam cozinhar. A tudo isto os três habitantes daquela casa pareciam indiferentes. Eram só eles, a toalha e a casa. Havia doces para sobremesa, postas de lado que estavam as espinhas e ossos, e vinho quente para aquecer a pele. Os olhos de cada um dos que se sentavam à mesa iam adquirindo paulatinamente uma cor negra que se alastrava pelo branco, entrando pelas pálpebras dentro com desenhos que pareciam os ramos das árvores lá fora. Rapidamente, a mancha negra começou-se a espalhar pela pele. Os doces de natal eram devorados em grandes pedaços e o vinho engolido em tragos espaçados e demorados. Ainda o som da televisão. Os foguetes lá fora. Jesus tinha nascido. Era meia-noite. As sombras que circundavam a casa e a sobrevoavam continuavam a crescer, estavam prestes a devorá-la. Não havia prendas. Qualquer réstia de desejo de surpreender porque era natal há muito que havia deixado aquelas paredes. Quando a ceia terminou, olharam os três uns para os outros e deram as mãos. Estavam quase negros de cima a baixo. Sentiam a terra a sugá-los e as sombras a devorá-los. Sabiam que este era o fim. A toalha, derretida, era agora um líquido vermelho espesso que escorria da mesa. Agarradas que estavam as mãos umas às outras, os três fecharam os olhos com força e porventura alguma confiança e fé. A casa precipitou em desabar, primeiro o chão que se abriu, depois o tecto que foi arrancado e arremessado para a noite, e por fim as paredes que caíram. Sentiram os seus corpos a serem esticados, puxados por todos os lados, prestes a explodirem. Ouviu-se os primeiros tecidos a rasgarem. As roupas pouca resistência ofereceram, assim como os cabelos e os olhos. A pele começou a partir e abrir em fendas finas e profundas. De seguida, a carne foi lacerada e arrancada dos ossos, que começaram a separar-se uns dos outros. Tudo aconteceu sem gritos nem barulho algum. Os foguetes continuaram. Era natal. Só restaram as mãos sobre a mesa, completas, agarradas com força umas às outras.