Chove e apetece-me dar uma volta à chuva. Ver o mar, talvez, cala-se e olha para o chão, mas e se me molho, o que me acontece, isto nem o diz em voz alta, há sempre a possibilidade de uma gripe, não posso, não, recomeça a falar, até porque não seria bom ficar doente antes do natal, do natal, suspende o que vai dizer, mas por que razão não me molho, posso sempre usar um guarda-chuva, pensa em voz alta, sim, posso, e molho só o essencial, os pés, que de qualquer modo estarão calçados, olha para os sapatos encostados a um canto, nenhum mal maior há-de vir daí, ela dorme na minha cama e não me apetece deitar-me junto dela, olha para ela, e não tenho sono e está calor, sacode a t-shirt, e também não quero ler nem ver um filme nem ver televisão nem escrever, que porcaria, só me apetece andar e ouvir música, olha para o mp3, vou, não vou, fala indeciso, o gajo também desmarcou-se à última da hora e eu que me foda, que caminhe sozinho, só para ver o mar, só para ver o mar, olha para o tecto sonhador, é isso, vou ver o mar.