sábado, 31 de outubro de 2009

mensagens subliminais

Sweet Dreams, Kirsten lepore

Não percebo bem a relação do queque com o vegetal. É...estranha...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o canto do mar

...
It may be that the gulfs will wash us down;
It may be we shall touch the Happy Isles,
And see the great Achilles, whom we knew.
Tho' much is taken, much abides; and tho'
We are not now that strength which in old days
Moved earth and heaven; that which we are, we are;
One equal temper of heroic hearts,
Made weak by time and fate, but strong in will
To strive, to seek, to find, and not to yield.

"Ulysses", Tennyson

sábado, 24 de outubro de 2009

a vida dos animais

"...Os animais não podem ser humilhados ou destruídos. Há uma espécie de dignidade por falta de recursos morais, uma inteireza fundada no mundo natural. Por meio de consciência, o homem alcança o poder ou a vulnerabilidade que o destrói. Escolhe-se a força ou a destruição própria, através da inspiração passada às provas, na enigmática malha da vida, opondo as astúcias do talento a cada repto das coisas. É o génio íntimo de cada um. Génio que não dá paz, que se contenta de si, e se alimenta no seu mesmo exercício. O poder é o poder, mais nada. Um bicho, depois de fugir em pânico assenta as patas na terra e avança inteiro, com os cornos baixos, ele todo projectado na violência da cabeça. Passa ou não passa. Passa ou morre. A morte é o seu abismo. Não pede perdão. Porque a inteireza animal é cega, limpa como a luz."
Herberto Helder, "Aquele que dá a vida" (in Os passos em volta, p. 105)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

antecipação

Quero, quero, quero ver este filme, apenas porque esta cena existe.



Blazing Saddlers

re-, pré-, pró-, pós-, final.

Ah, e bastou umas canções jazzy ouvidas por um corpo partido, para que um cérebro adormecesse as sinapses podres de histórias. E as abóboras defeituosas no campo de milho - o cavalo quieto e as cabras orgulhosas, comendo. Prepara-se aqui uma viagem. Para nunca mais voltar.
Tenho fé. Porque não há tempo suficiente para arrastões.

O Minotauro e Eu

O truque afinal não é continuar a correr. É ser semeado conscientemente. Tenho dito mas não tenho feito.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Last evening's quote

"I don't have time to be Forrest Gump"

Causas perdidas porque não se consegue achá-las

Hoje falava com um amigo acerca da desilusão que ambos partilhamos em não termos nascido mais cedo e de não termos vivido nos turbulentos tempos que foram os anos 60 ou 70, por exemplo. Dizíamos que agora não sabemos qual é o nosso inimigo, desconhecemos a cara do monstro que queremos combater. Ele existe, sabemo-lo, existirão até bastantes, mas não há causas tão excitantes como antigamente.
Ora, das duas uma: ou a culpa é nossa e queixamo-nos porque simplesmente nascemos com a inércia típica da "boa" economia em que fomos dados à luz e na relativa superação de algumas lutas que nos providenciaram modos de vida mais confortáveis, ou simplesmente o que estamos a fazer é a olhar romanticamente para o passado.
De qualquer das maneiras, é verdade que me sinto um tanto ou quanto órfão em relação a causas sociais, apesar de saber que existem muitas, já para não falar nas ambientais. Mas falta que os inimigos se revelem, que sejam mais palpáveis, que arreganhem os dentes.
Porque se a coisa continua assim acabaremos todos por morrer de tédio, seja qual for a razão da nossa letargia, estejamos nós a ver a coisa de uma perspectiva errada (não fazendo as perguntas certas) ou não.
E a modorra da minha geração é produto de uma incógnita. É-o?
Não sei, talvez seja coisa do Ocidente. Conheci há duas ou três semanas um rapaz iraquiano, que esteve envolvido nos confrontos contra a reeleição de Ahmadinejad. E ele disse-me que a partir da primeira rebelião nas ruas (com consequentes mortes de protestantes) as pessoas deixaram de temer pelas suas vidas e a raiva era tanta, que só interessava deitar abaixo o tirano.
Então, pergunto: afinal, que espécie de morosidade é esta de que eu e o meu amigo falávamos?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

God Bless America

A América é um sítio peculiar. A tão advogada "freedom" é de tal forma regrada por estas bandas, que se sente mais opressão do que outra coisa. Beber no campus nem pensar, a não ser que hajam concertos, e aí, com a devida identificação a mostrar idade superior a vinte e um anos, dão umas pulseiras (amarelas para os rapazes, rosa para as raparigas...) para comprarmos cerveja e depois a bebermos num local designado, longe do palco - o "Beer Garden". Esse estrado é curioso porque se veda com uma fita estilo policial e mesmo se pusermos um pé fora dele (mas ainda dentro da linha) vem logo um segurança dizer-nos que beber é só com a patinha no devido sítio. Ontem o concerto foi dos The Sounds e a abertura pelos surpreendentes Foxy Shazam. Duas bandas quase desconhecidas, sendo a principal bastante "calma". Mas ainda assim, polícia a rondar a sala de espectáculo dentro e fora de portas.
A realidade das partes que já visitei dos Estados Unidos e segundo o que os americanos me dizem é que o rigor e as regras são a chave do mecanismo que aqui funciona. A bebida, por exemplo, é de tal modo proíbida, que muito poucos jovens beberão pelo simples prazer de saborear um vinho ou uma cerveja. Não, beber é tabu e quase só se faz para a bebedeira. Isto é especialmente válido para os jovens pré-vinte e um anos, que bebem dentro de portas e se arrastam no fim das festas. Será que por ser apenas legal aos vinte e um anos a bebida aqui é um demónio que se apropria quando se chega à universidade e, principalmente, quando se atinge a idade legal?
Mais, andar de bicicleta fora das chamadas "bike lanes" é impensável, especialmente dentro do campus universitário, onde se pode muito facilmente (eu já assisti) apanhar uma multa que não deve ser pequena. E nós estudantes internacionais temos tantas regras a cumprir, que se por algum acaso cometemos uma pequena infracção corremos um sério risco de sermos deportados.
E as relações humanas são deveras diferentes das na Europa, ou pelo menos na realidade europeia que é a minha. A simpatia tão tipicamente americana, que eu duvido que seja falsa, torna-se desconfiança a um toque mais físico da nossa parte. Compreensível, cultural, digamos.
O fumar. Tabu brutal por estas bandas californianas. Olham-nos com algum desprezo em certos sítios, raramente haverá um cinzeiro em cafés ou bares, e só se pode fumar "20 feet away from public buildings" ou em sítios designados para o efeito. A maior parte detesta o fumo e os fumadores. Mas a maior parte dessa grande parte pede cigarros quando bebe, dispondo-se até a pagar um dólar por um "cig". E quantos pedem tabaco...a mim já lhe perdi a conta. E eu dou, porque gosto de alimentar hipocrisias.
Por outro lado, não quero soar tão desiludido com o lugar. Santa Barbara não é a melhor cidade do mundo, nem a UCSB é a universidade mais animada e cultural de todas. Aliás, não se passa muito aqui. E isso cria um deserto que me asfixia. Ainda assim, as coisas de facto funcionam e o pudor tão característico dos americanos é compensado pelo facto de podermos muito bem reclamar e ganharmos alguma coisa com isso (além de que as passadeiras num dos ginásios têm televisões individuais com canais cabo). As coisas funcionam para o povo, isso é válido para quase tudo aqui.
É difícil descrever o que é estar cá. Só vivendo o "american dream".
Mas, ó América, que "quaint" me saíste... e tão urbana ao mesmo tempo!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

sombras de outrora hoje

A melhor maneira de talvez lidar com o passado é aceitar o facto de que nunca nos livramos totalmente dele. E assim porventura o seu peso diminua, ao nos deixarmos atingir pelas repercussões que inevitavelmente provocam novos sismos em nós. Fugir do ontem tem o preço de encarecer o presente e pode provocar crises sistemáticas no futuro - porque o equacionamos na mesma balança que o passado. E aqui chega-se a um beco com saídas amiúde escondidas. E fazer as perguntas certas é nem questionar a nossa posição. Porque é possível criar felicidade mesmo após escavarmos abismos - dançando nas trevas do buraco onde nos metemos e lembrando a luz que era a nossa antiga escuridão.

culturalmente...

Na ópera, os ciganos e os orientais cantam trechos que ao estilo operático são canções do folclore dessas origens. Ai, Carmen, como te traíram!

A Lei

Ninguém há-de abjurar o Paraíso a quem não o souber questionar por inocente falta de saber fazer perguntas. E há-de haver muitos a negarem o penoso caminho desde o chão onde caem e o buraco onde os enfiam. Eu sei disso com a força de todas as leis do amor. Tudo há-de ser eterno para esses. Ámen.

coisas destruindo outras coisas, para criar outras coisas

O que é uma vida extraordinária?

Que deserto.

Quero dar à luz.

Mas estou no deserto.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Interpretar

"The aim of all commentary on art now should be to make works of art - and, by analogy, our own experience - more, rather than less, real to us. The function of criticism should be to show how it is what it is, even that it is what it is, rather than to show what it means.

In place of a hermeneutics we need an erotics of art. "
Susan Sontag, "Against Interpretation".

terça-feira, 13 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A República

O dia 5 de Outubro já lá vai no meu país. E aqui onde a democracia atinge a sua faceta mais verdadeiramente alucinante e quase tirana eu sinto vontade de bem alto proclamar, Viva a República, mas o meu grito nunca chegaria os ouvidos moucos dos quasi-nobres-p'ra-ser de Portugal. É o tipo de gente que acredita no horóscopo e tem tempo e dinheiro para esperar que a monarquia seja restaurada e o tio Sebastião lhes volte para encher os cofres de ouro negro e de sangue.
E quase me esquecia que os outros não são assim tão diferentes, hoje em dia. Algum dia o foram?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O Medo



Amália Rodrigues - "Medo"

O medo de que aqui se fala é a mão que nos prende a alma e a espreme diariamente. É esse sentimento inominável que nos tira o sono e nos faz gemer e gritar num silêncio de rasgar o peito. É o ímpeto para esmurrar o nosso tronco, a fim de permitir que o ar passe correctamente. É, muito simplesmente, o medo de existir. Não, talvez seja mais ainda o receio de viver um perpétuo sintoma do mal de ser. A desnaturalização do olhar é porventura o início de tal medo. No momento em que os nossos olhos vêem demasiado para dentro de nós, é aí que começa a ser difícil sair do espelho que é o contínuo acordar. E então teme-se todas as naturais consequências de se estar vivo e de se gostar das pessoas e das coisas. Pelo simples receio de sofrer.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Afinal de Contas

Saí do quarto para fumar um cigarro. No frio da noite havia um rapariga a andar de skate, praticando de um lado para o outro. Eu vi nela todos os ensinamentos do mundo. É o meu aniversário onde nasci. Afinal, para que nasce uma pessoa?