Amália Rodrigues - "Medo"
O medo de que aqui se fala é a mão que nos prende a alma e a espreme diariamente. É esse sentimento inominável que nos tira o sono e nos faz gemer e gritar num silêncio de rasgar o peito. É o ímpeto para esmurrar o nosso tronco, a fim de permitir que o ar passe correctamente. É, muito simplesmente, o medo de existir. Não, talvez seja mais ainda o receio de viver um perpétuo sintoma do mal de ser. A desnaturalização do olhar é porventura o início de tal medo. No momento em que os nossos olhos vêem demasiado para dentro de nós, é aí que começa a ser difícil sair do espelho que é o contínuo acordar. E então teme-se todas as naturais consequências de se estar vivo e de se gostar das pessoas e das coisas. Pelo simples receio de sofrer.
Sem comentários:
Enviar um comentário