O Bento XVI reviu aquilo que acontecia às crianças mortas antes do baptismo. Agora, segundo ele, essas almas passariam directamente para o Céu e não ficariam, como até aí, no limbo. A minha pergunta é: o que aconteceu às outras todas que foram para o limbo? Querem ver que a Igreja aproveitou essas alminhas para lhes dar corpos e usá-los depois para actos de pedofilia que tão bem se têm vindo a descobrir serem profusos no seu seio?
sexta-feira, 29 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
O rei desconstrói, sorrindo.
Tenho medo de viver com medo de viver. Quero esgotamentos nervosos, quero saber que já fiz tanto, que ainda me falta tanto para nunca chegar a fazer tudo. Desdobrar-me todo em todos múltiplos de todos. Tão pouco tempo e, no entanto, tantas coisas para fazer, que a ironia é tão grande por não poder dispender todo o tempo a gastá-lo com essas mesmas coisas. E dormir tão profundamente é fazer muitas coisas, sonhos molhados, pesadelos febris, ideias, arte para canhão. Disparar poemas contra tudo o que mexe e foder, foder, foder. Amar tudo no ódio de gostar. E amar. Perpetuamente amar no espaço liminal de um ritual de passagem que termina em nenhuma revelação. Sem para sempre é complicado de conceber - e a língua anda à frente das ideias inconcebíveis. Para sempre sabendo que a eternidade não é imortal. Anda este rei à procura do trono, sentado nele.
sábado, 23 de maio de 2009
A Redução do Riso 2
A Caixa Número Três, A Quinta Bobina
A Krapp
A minha memória gravada, (solidão de quem recorda
sem se lembrar), entoa a minha voz apagada,
enquanto eu, preso a um fio rompido, bebo à minha loucura
de ser estrume. E escorrego nele, de face calada,
rememorando os obtusos anos
da minha procura.
Suspendo o fio, adianto, regresso e
grito nos intervalos da lembrança
e contra-digo o discurso que digo;
os aniversários enfadam-me, o amor cansa,
eu fui porcaria jovem e a minha aurora
um castigo.
Nessa caixa número três, na quinta bobina,
rodam os anos magoados,
e eu bebo sozinho e amaldiçoo toda a minha história;
para mais tarde, vencido, de olhos tão fechados,
que se abrirão vazios, escutar abraçado o silêncio
da minha memória.
A Krapp
A minha memória gravada, (solidão de quem recorda
sem se lembrar), entoa a minha voz apagada,
enquanto eu, preso a um fio rompido, bebo à minha loucura
de ser estrume. E escorrego nele, de face calada,
rememorando os obtusos anos
da minha procura.
Suspendo o fio, adianto, regresso e
grito nos intervalos da lembrança
e contra-digo o discurso que digo;
os aniversários enfadam-me, o amor cansa,
eu fui porcaria jovem e a minha aurora
um castigo.
Nessa caixa número três, na quinta bobina,
rodam os anos magoados,
e eu bebo sozinho e amaldiçoo toda a minha história;
para mais tarde, vencido, de olhos tão fechados,
que se abrirão vazios, escutar abraçado o silêncio
da minha memória.
terça-feira, 19 de maio de 2009
"L´Envoi"
Pode parecer a alguns de vós que, nas presentes e altamente irritantes condições do mundo, o estudo da literatura seja um desperdício de energia, sobretudo o estudo da estrutura e do estilo. A minha opinião é que para certo tipo de temperamento - e cada um tem um temperamento diferente -, o estudo do temperamento pode parecer sempre, em qualquer circunstância, um desperdício de energia. Mas fora isso, creio que em todos os espíritos, quer estejam inclinados para o artístico ou para o prático, há sempre uma célula receptiva às coisas que transcendem as espantosas preocupações da vida quotidiana.
Os romances que estudámos não vos ensinarão nada que possais aplicar aos problemas óbvios da vida. Não ajudarão no escritório, nem no exército, nem na cozinha, nem no jardim-escola. De facto, os conhecimentos que tentei partilhar convosco são puro luxo. Não vos ajudarão a compreender a economia social da França nem os segredos do coração de uma mulher ou de um homem. Mas talvez vos ajudem, se acompanhastes os meus ensinamentos, a sentir a pura satisfação que uma obra de arte inspirada e precisa transmite; e esta sensação de satisfação dará por sua vez lugar a um sentimento de verdadeiro consolo mental, o consolo que se sente quando se toma consciência, apesar de todos os seus equívocos e enganos, de que a textura interior da vida é também matéria de inspiração e precisão.
Os romances que estudámos não vos ensinarão nada que possais aplicar aos problemas óbvios da vida. Não ajudarão no escritório, nem no exército, nem na cozinha, nem no jardim-escola. De facto, os conhecimentos que tentei partilhar convosco são puro luxo. Não vos ajudarão a compreender a economia social da França nem os segredos do coração de uma mulher ou de um homem. Mas talvez vos ajudem, se acompanhastes os meus ensinamentos, a sentir a pura satisfação que uma obra de arte inspirada e precisa transmite; e esta sensação de satisfação dará por sua vez lugar a um sentimento de verdadeiro consolo mental, o consolo que se sente quando se toma consciência, apesar de todos os seus equívocos e enganos, de que a textura interior da vida é também matéria de inspiração e precisão.
(...)
in Nabokov, Vladimir, Aulas de Literatura, (Trad. Salvato Telles de Menezes), Lisboa, Relógio d' Água, 2004, p. 432
domingo, 3 de maio de 2009
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