domingo, 28 de junho de 2009

Baco

Engano o desejo de viver. Quatro cavalos, diz quem sabe. Mas o coche não se mexe. Fico parado, tu não me vês (quero eu que me vejas?). Quem me vai guiar? Ninguém.

Que toda a gente venha ver o lusco-fusco.

Eu morrerei mais à frente.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

do Sul

"chiamu la vita e sempri morti marrispunni"

in "Vitti Na Crozza"

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Solução Final

"Dai-me os frutos do vosso vómito. E as tesouras para podar o meu eco. A escada para subir ao elefante do escárnio. Rio-me face ao sol. E nem sei se beber vinho me faz inchar as mãos. O que está do outro lado é sempre melhor, mais feliz. Dai-mo, esse lado trespassado pela alergia de ser morrente. Para que eu ultrapasse a vida no desejo de me ter."
Sem género nem nome, assim sobrevoaremos a cidade e assistiremos à sua autodestruição. Sentiremos o chão desabar sob os nossos pés e o calor insuportável do fim do mundo. Desapareceremos. Mas na nossa concretização final, no suprimir da Terra, daremos a vida pelo diário - para que fique originalmente no centro do novo planeta que surgirá. Sim, destruamos o mundo. Sem nome nem género. A cidade em chamas, nós daremos as mãos ao ardermos. E a história há-de recomeçar já escrita.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Impacto

Tudo volta para mim agora, diz Adão, venerando, Tudo o que fiz em ricochete a trespassar-me. E eu que fui construindo um monstro sem amar, agora revejo-me na decepção que os anjos mandam para mim. Assim diz Adão, olhando o espelho. O seu amor próprio alimentado pelo desprezo pelos outros. Quão errado estive. Na minha voz, de narrador e de personagem, agora abafada por uma outra, imensa, mais forte, que me deu silêncio neste espelho. E ele que queria voltar a amar, Fui atingido pela figura que projectei, no esgar de troça que a figura lhe devolve, Preso na indiferença do corpo, sabe agora que tem de voltar a amar, Suspenso na memória nocturna, e não sabe quando o fazer, Eu que não choro não consigo chorar, contempla-se sem esperança nem tristeza, Quando começarei novamente a fraquejar, fazendo perguntas sem resposta.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Lógica

Quem diz que os ateus não crêem é porque não sabe que eles acreditam que não há Deus.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

da sociedade de classes

Como não sermos hipócritas se é inevitável que ao andar esmaguemos alguns insectos?