Tudo volta para mim agora, diz Adão, venerando, Tudo o que fiz em ricochete a trespassar-me. E eu que fui construindo um monstro sem amar, agora revejo-me na decepção que os anjos mandam para mim. Assim diz Adão, olhando o espelho. O seu amor próprio alimentado pelo desprezo pelos outros. Quão errado estive. Na minha voz, de narrador e de personagem, agora abafada por uma outra, imensa, mais forte, que me deu silêncio neste espelho. E ele que queria voltar a amar, Fui atingido pela figura que projectei, no esgar de troça que a figura lhe devolve, Preso na indiferença do corpo, sabe agora que tem de voltar a amar, Suspenso na memória nocturna, e não sabe quando o fazer, Eu que não choro não consigo chorar, contempla-se sem esperança nem tristeza, Quando começarei novamente a fraquejar, fazendo perguntas sem resposta.
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