Na criação, por mais que tentemos, nunca saímos realmente de dentro de nós mesmos. A experiência pessoal é o epicentro do terramoto que é o mundo - a força centrípeta que exercemos ao conhecer é projectada centrifugamente, a fim de provocar mais sismos. E assim sucessivamente e circularmente.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
terça-feira, 11 de agosto de 2009
A Intenção Poética
'O Último Poema' - Manuel Bandeira
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
'Last Poem' - Fernando Pessoa
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
'Last Poem' - Fernando Pessoa
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.
Curiosas são as diferenças entre os dois poemas. A ter em consideração a distância anímica com que Bandeira escreveu o seu texto e a declamação no leito de morte de Pessoa. E, no entanto, a simplicidade que transborda nos dois poemas é por demais evidente. Ainda assim, enquanto que Bandeira procura aquilo que poderíamos chamar a alma das coisas, Pessoa segue tratando o sol como sol e mais nada. Diferentes intenções ou apenas duas vias para chegar ao mesmo último poema?
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Da Escola Cínica ao Cinismo Puro
Diógenes de Sínope deambulava pelas ruas rejeitando todas as convenções sociais possíveis. Com uma lamparina acesa durante o dia, o fundador da filosofia cínica professava procurar um verdadeiro ser humano com essa luz.
Por que razão nos tornámos demasiado cínicos para seguir a escola de Diógenes e usar a mesma lamparina? Estaremos arrogantes ao ponto de não precisarmos dela?
Parece-me é que roubámos a sombra a Diógenes, tal como Alexandre da Macedónia.
domingo, 2 de agosto de 2009
a tarefa do escritor
Pretende-se com a escrita confirmar apenas a eterna impossibilidade da palavra. O que me parece é que a escrita não só mata palavras (ao falsamente lhes dar vida) como lhes rouba aquilo que elas dizem dentro das pessoas. Tentar roubar o menos possível é a tarefa de um bom escritor.
sábado, 1 de agosto de 2009
Da Estética como Metafísica, da Filosofia como História (?)
(...)
The soul goes out to seek adventure; it lives through adventures, but it does not know the real torment of seeking and the real danger of finding; such a soul never stakes itself; it does not yet know that it can lose itself, it never thinks of having to look for itself. Such an age is the age of the epic.
It is not absence of suffering, not security of being, which in such an age encloses men and deeds in contours that are both joyful and severe (for what is meaningless and tragic in the world has not grown larger since the beginning of time; it is only that the songs of comfort ring out more loudly or are more muffled): it is the adequacy of the deeds to the soul's inner demand for greatness, for unfolding, for wholeness. When the soul does not yet know any abyss within itself which may attempt it to fall or encourage it to discover pathless heights, when the divinity that rules the world and distributes the unkown and unjust gifts of destiny is not yet understood by man, but is familiar and close to him as a father is to his small child, then every action is only a well-fitting garment for the world. Being and destiny, adventure and accomplishment, life and essence are then identical concepts. For the question which engenders the formal answers of the epic is: how can life become essence? And if no one has ever equalled Homer, nor even approached him - for, strictly speaking, his works alone are epics - it is because he found the answer before the progress of the human mind through history had allowed the question to be asked.
(...)
Our world has become infinitely large and each of its corners is richer in gifts and dangers than the world of the Greeks, but such wealth cancels out the positive meaning - the totality - upon which their life was based. For totality as the formative prime reality of every individual phenomenon implies that something closed within itself can be completed; completed because everything occurs within it, nothing is excluded from it and nothing points at a higher reality outside it; completed because everything within it ripens to its own perfection and, by attaining itself, submits to limitation. Totality of being is possible only where everything is already homogeneous before it has been contained by forms; where forms are not a constraint but only the becoming conscious, the coming to the surface of everything that had been lying dormant as a vague longing in the innermost depths of that which had to be given form; where knowledge is virtue and virtue is happiness, where beauty is the meaning of the world made visible.
Georg Lukács
The Theory of the Novel
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