Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
'Last Poem' - Fernando Pessoa
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.
Curiosas são as diferenças entre os dois poemas. A ter em consideração a distância anímica com que Bandeira escreveu o seu texto e a declamação no leito de morte de Pessoa. E, no entanto, a simplicidade que transborda nos dois poemas é por demais evidente. Ainda assim, enquanto que Bandeira procura aquilo que poderíamos chamar a alma das coisas, Pessoa segue tratando o sol como sol e mais nada. Diferentes intenções ou apenas duas vias para chegar ao mesmo último poema?
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