...esta seria uma das suas músicas:
Elvis Costello w/ guest Fiona Apple - I WANT YOU
sábado, 30 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Xania
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Do pensamento lógico
LÓGICA
Um som abafado cai
Sobre cabeças que não têm ouvidos
E o barulho que isso provoca é
Apenas as ideias daqueles que não as dizem.
Um rei que reina sobre cegos é
O maior cego que existe.
A chuva cai quando menos se espera,
Os mortos afectam os vivos,
Todos os impérios desmoronam.
Por isso,
Um som abafado cai
Sobre a cabeça de um rei que reina cegos;
O barulho da chuva acorda as ideias dos mortos e
O império dos vivos desmorona.
Ricardo Fonseca, Manchester, 2007
Um som abafado cai
Sobre cabeças que não têm ouvidos
E o barulho que isso provoca é
Apenas as ideias daqueles que não as dizem.
Um rei que reina sobre cegos é
O maior cego que existe.
A chuva cai quando menos se espera,
Os mortos afectam os vivos,
Todos os impérios desmoronam.
Por isso,
Um som abafado cai
Sobre a cabeça de um rei que reina cegos;
O barulho da chuva acorda as ideias dos mortos e
O império dos vivos desmorona.
Ricardo Fonseca, Manchester, 2007
Da natureza como os olhos de cada um
ÁGUA MORRENTE
Il pleure dans mon coeur
Comme Il pleut sur la ville.
Verlaine
Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.
Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Com a água morrente.
(Camilo Pessanha, Clepsydra, 1920)
Il pleure dans mon coeur
Comme Il pleut sur la ville.
Verlaine
Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.
Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Com a água morrente.
(Camilo Pessanha, Clepsydra, 1920)
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Faces in the Water
Há livros que nos marcam pela sua intensidade formal, discursiva, descritiva e de conteúdo. Faces in the Water, de Janet Frame é um excelente exemplo de como podemos ser agredidos por uma mão que nos esbofeteia e não pede nunca desculpa. Até ao fim.
Assustador, este romance da escritora neo-zelandesa foi descrito como um verdadeiro relato de loucura. Eu arriscaria dizer que é muito mais do que isso - é talvez um relato de como a loucura pode ser vista através de diferentes perspectivas: do louco (e caímos aqui num terreno perigoso), do que se convenceu um dia que estava louco, daqueles que fazem da loucura o seu instrumento de trabalho, dos que convivem diariamente com ela e daqueles que a visitam de muito em muito tempo, como se fosse uma doença contagiosa.
Istina começa e acaba o livro exactamente como começou: sem explicação para nada e sem certezas de alguma coisa. Se é aconselhada a adquirir um total esquecimento daquilo por que passou no hospital psiquiátrico, com vista a uma recuperação da vida dita "normal", uma pergunta fica no ar aquando o desfecho: "And by what I have written in this document you will see, won't you, that I have obeyed her?". É mais um estalo na cara de um leitor que chega a pensar que o pesadelo da personagem chegava a um fim.
As transferências de secção para secção, de ala para ala são descritas como um inferno que se aguenta porque custa mais ver a falta de humanidade de quem é suposto tomar conta dos pacientes. São animais que são castigados simplesmente por serem humanos e terem necessidades típicas de uma pessoa. Os tratamentos electro-convulsivos são encarados como o maior pesadelo dos pacientes, como se uma descarga eléctrica pudesse acalmar as bestas que se exaltam por falta de liberdade e respeito. Mas sempre de uma perspectiva pouco ou nada crítica, como se aquilo fosse o caminho que o mundo real e sano achava correcto e, consequentemente, os pacientes só não achavam porque a lucidez há muito tempo havia abandonado os seus cérebros.
Em termos de forma, a linguagem e construção sintáctica são dignas de deslumbramento - se os termos utilizados são por vezes eruditos para logo a seguir se tornaram banais, nunca são empregues à toa, sem uma preocupação com a ordem e falta ou presença de pontuação. Há como se fosse um "stream of consciousness" que, tendo em conta o tema do romance, é por vezes um verdadeiro turbilhão ordenado. Há caos nas palavras, há uma beleza singular, como se Istina fosse uma flor levada por um furacão. A construção sintáctica faz com que o relato pareça um longo poema, com frases e orações que se extendem para lá do habitual no mundo anglo-saxónico.
Há momentos cómicos, momentos de pura tristeza, sinceridade e solidariedade para com as personagens, assim como de absoluto terror e compaixão. A lobotomia é apresentada como a resposta para todos os males: adquirir uma nova personalidade e aliviar a tensão são os mecanismos de resgate de toda uma sanidade. Mas, como inquire a personagem principal, e se a antiga personalidade fica apenas adormecida num recanto profundo e depois, anos mais tarde, regressa para se vingar de maneira poderosa?
Apesar do que Janet Frame afirmava, Faces in the Water parece ser um terrível e arrepiante relato quasi autobiográfico da própria autora, que só se salvou de uma lobotomia porque tinha um talento nato e potente para a escrita.
A ler.
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